Por Vítor Faro, CEO da Solution IPD
Neste ano, vimos o tema sustentabilidade nas empresas aparecer mais em função da valorização da agenda ESG, sigla em inglês que pode ser traduzida como Governança Ambiental, Social e Corporativa. Em todo o mundo, investidores têm cobrado a implementação de ações que demonstrem uma espécie de “consciência da organização” com relação a questões que passam pelas relações de trabalho, ética nos negócios e redução dos impactos ambientais do negócio.
É fato que a “onda” ESG pode ser um movimento de ganha-ganha, no caso das empresas que realmente estão interessadas em contribuir com essa agenda. Mas, ao examinarmos os processos integrais nas organizações que divulgam a adoção da governança socioambiental, será que encontraremos realmente uma incorporação de ESG ou apenas ações pontuais que não passam de estratégia de marketing? A provocação que trago aqui não tem a intenção de ignorar ou desmerecer iniciativas muito interessantes que estão ocorrendo, mas serve de alerta para o fato de que as mudanças associadas a resultados pequenos, ou inexpressivos, além daquelas que só farão diferença a muito longo prazo não traduzem o conceito de sustentabilidade embutido na sigla ESG.
Em diferentes setores, o passo a passo rumo à transição para economia de baixo carbono inclui, por exemplo, a neutralização de emissões através do plantio de árvores. É lógico que o reflorestamento é algo essencial para a recuperação do planeta, mas a transformação não pode estar vinculada apenas a ações que trarão resultados reais daqui a décadas. Isso quer dizer que a compensação das emissões precisa estar acompanhada da redução imediata do lançamento dos poluentes, senão as mudanças serão insuficientes. Prova disso é que, apesar de todo o movimento mundial para desacelerar o aquecimento global, as concentrações dos gases de efeito estufa na atmosfera atingiram novo recorde em 2020 (dado da Organização Meteorológica Mundial).
Em um cenário de pressa e propósito comum a todas as organizações do mundo - que é salvar o planeta - a união parece ser um excelente caminho para acelerar a transição energética e reduzir a geração de resíduos. E, no Paraná, a formação do primeiro comitê público-privado ESG do país é um exemplo interessante de como a conexão entre companhias e o poder público pode gerar resultados promissores.
A iniciativa do grupo O Boticário, em parceria com o Governo do Estado, deve promover uma cooperação entre representantes de empresas públicas, privadas e secretarias estaduais, apresentando boas práticas existentes pelo mundo e criando novos projetos relacionados à sustentabilidade. Empresas como a Klabin, JBS, Sanepar, Renault, Itaipu e Volkswagen já entraram no projeto.
Partindo do entendimento de que a sustentabilidade não é algo que se constrói isoladamente, o Boticário já havia iniciado, em janeiro deste ano, um projeto em parceria com a empresa DHL para zerar as emissões das entregas da varejista para as lojas na cidade de São Paulo. Outro exemplo de união entre marcas em prol do Meio Ambiente, o projeto transporta os cosméticos das várias marcas do grupo da Bahia até a capital paulista por uma frota elétrica inicial de 14 veículos.
O exemplo de O Boticário serve para demonstrar como parcerias e investimentos em inovação para gerar novos processos nas empresas podem fazer diferença imediata no Meio Ambiente. A inspiração está não nas soluções em si, mas na opção por participar da transformação necessária para o planeta de forma efetiva. A sigla ESG resume demandas urgentes e emergenciais para todos os setores e negócios. E também traduz um conjunto de posturas que resulta na valorização dos ativos da empresa, por efetivamente internalizar as práticas de governança socioambiental em todas suas etapas.
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